segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Convite (Carpe Diem)

Vem, amanhã pode ser tarde,
Talvez não tenhas chance,
E o tempo lhe alcance
Sem que seja oportuno
Olhar nos olhos de quem lhe arde o peito
E enrubesce as maçãs de seu rosto,
E que cala o discurso mais ensaiado.
Vem, pois este “hoje” é o dia
De que ainda tens a garantia de colher
Os frutos do amor que alimenta seu ânimo;
E que à noite vela teu sono
Semenado nos teus sonhos
O desejo secreto de muitos “amanhãs”.


Vem, quando se ama o tempo pára,
O instante é o “sempre agora”
E o amanhã uma distante maldade.
 Este é o convite que lhe faço:
- Hoje, revele teu coração,
Pois se amanhã já não formos
Seremos na eternidade.

Desmundo


Uma dor silenciosa vaza-me por inteiro
Vejo o que pensava ser diluir-se em nada,
Sobra-me um vazio de significados
Como migalhas de uma existência que não alcanço,
E a cada amanhecer parece iniciar-se um novo "jogo de dados".

Sorte,acaso,sucesso,embaraço,
Uma corrente de fatos que não garantem sustento;
Percebo que não encontrei das coisas o fundamento.
Circunstâncias jamais explicarão o ser assim,
Que mesmo desencontrado,não me encontro abandonado de mim.

Os demônios ansiosos do dia-a-dia,
E nem mesmo os fantasmas agourentos das noites
Arrancam do tesouro secreto na alma,
Essa estranha sensação de paz e calma
Que da vida suporta os piores açoites.

Vejo coisas inauditas
Ouço sobre uma vida jamais vista,
Todos os meus sentidos estão atolados no medo,
Mas os olhos e ouvidos de que falo
São de um coração que testemunham no “Desmundo”
Seus mais preciosos segredos.

Mensuro tudo com medidas incompreensíveis,
Compreendo as coisas com amor imensurável,
De sorte que não há perda que não me acrescente,
Confrontos que não me encontrem valente,
Impressões alheias que atentem contra o que me revela o “espelho de dentro”:
- Que na vida nada há que não se redima,
E lugar em que não se encontre contentamento.

(Matheus "Theo" Fagundes).

Póstumo (Em 18/11/10, às 05:10 AM)

Vejo-me lançado no chão
Como semente que rebelou-se da algibeira,
Entregue às desventuras do tempo.
Solitário, apego-me ao último pedaço do chão que foi meu piso,
Agora, dos homens sou estrado, e dos vermes, sustento.

Última imagem do que era,
Prima assombrosa visão do que sou;
Antes ,grande terror de minha imaginação,
Que tragava como cigarro minha aurora flamejante;
Oh, Morte ! Caminhamos mais juntos do que antes,
Enquanto lança-me em rosto minha própria peregrinação.

“Remaking” de mim mesmo no além-mundo,
Crítica de uma “trama” em extremo embaralhada.
Longe de mim, questionar o Roteiro emprestado,
Mas a execução foi um grande vexame:
- Coisas mal postas, lugares errados, péssimo cenário,
E como protagonista alguém tão heróico quanto o monstro de Notre-Dame.

Ao menos um detalhe que testemunho é fiel:
- As perspectivas podem ser diferentes,
Mas a imagem permanece igual;
De quem, na vida, deixou-se sozinho jazer na morte
Enquanto o tempo feroz urgia,
Agora, morto, que não careço de companhia,
E nem mesmo distingüo entre noite e dia,
Lamento a saudade de um destino que _quem sabe?_ encontraria outra sorte.


Realidade (Em 18/11/10, às 13:30 hs)


Às vezes canso de minha escrita:

- Rima entediante, prosa incompetente,

Temas aparentemente defasados, estilo decadente.


Terrível golpe na ambição deste infeliz,

Na vida, aprendiz de humano, de poeta,

Nessa vergonhosa expectativa dos créditos do que diz.


“Triste”, sim, é a palavra que ao poeta define:

- Pois, desde quando a tal felicidade foi tema real?

Se alguma satisfação há, é deixar que a tristeza ensine.


“Felicidade” é mera utopia:

- Delírio de ufanista, débil, cego, tolo,

Ideal tão fugidio, que mesmo os mais “inspirados”

Somente alcançam-no por meio de alegorias.


Ah! Com a tristeza não se dá assim:

- Ela, sim, é real, em todos entranhada, de todos conhecida, visceral.

Conceito (como a outra?)? Jamais ! Antes é, no Livro da Existência

Tema, prelúdio, desenvolvimento, posfácio, e fim.


Pelo jeito, ainda hei de muito cansar-me da escrita:

- Fazer o quê se, não falta-me tema mais atual,

Dores, questões, problemas, e vida _gargalho !_,

Pra falar desta, de todos, desdita?