Linda: uma verdadeira semente da virtude; em todos os gêneros !!! Potencialmente, uma grande mulher; mas naquela hora, somente uma menina....linda,mas apenas uma menina.
Sua mãe concebera-lhe e dera-lhe a luz no mesmo cômodo de sua casa: o terrível quarto dos espelhos falantes. Penso que na casa de toda mulher existe tal cômodo: esse lugar temido em que os espelhos realmente falam, e geralmente, coisas aterradoras !!! São objetos herdados de muitíssimas gerações; das matriarcas, é claro.
Tais elementos possuem um terrível poder de sedução sobre suas possuidoras, de maneira que, quanto mais passa o tempo, mais as donzelas passam a conformar-se ao que dizem os tais espelhos.
A bela garota foi crescendo, e sua mãe (outra vítima genealógica do terrível “monstro” do reflexo distorcido) sempre a expunha: e ela ouvia coisas ora tão grandiosas que beiravam a megalomania; ora objeções tão agressivas ao seu “ser” que a mesma ,por muitas vezes, não reconhecia-se refletida.
Chegou a maioridade, e a menina de outrora, agora mulher, se vê diante do maior dilema de seus poucos _ e ilusórios anos: ao sair de seu “quarto existencial” ela teve a sua grande, porém necessária (ao que desejam amadurecer de verdade !), decepção: a descoberta de que, espelhos são mentirosos; de que os mesmos são “monológios” da desgraça, de uma falsa “auto-percepção”.
Que terrível dor: quase três dezenas de vida acreditando em mentiras que a moldaram por inteiro; logo a descoberta de que todas as dimensões de sua “vida” eram pura fantasia.
Mas a “Roda de Fortuna (deusa grega do destino humano)”, que em seus giros alucinantes muitas vezes fazem-nos pensar que a vida conspira contra nós, girou sobre a realidade da menina-agora-aprendiz-de-mulher: expulsou-lhe de seu “quarto” para ensinar-lhe a verdade sobre o auto-conhecimento e o sentido da vida: é que o verdadeiro ser das coisas, a mais pura essência necessária ao bem-viver não são aprendidas em nossos “espelhos monológicos”: aqueles em que somente nós e nós debatemos...
Sair do “quarto” é abrir-se para a mais verdadeira possibilidade de conhecer-se, e de extrair real significado das coisas: é olhar-se em “espelhos humanos”; encontrar a verdadeira imagem de si diante do “reflexo da humanidade”; e descobrir enfim, que o Sentido relevante de tudo que fazemos e do modo como devemos aprender a ver-se e construir-se não está em nós: está fora de nós.
É nos outros que vê-se realmente refletido, confrontado, aceito, amado....! Não trata-se comparação, antes de adequação.
E assim a menina aprendeu que abraçar a si mesma integralmente (do jeitinho que se é), necessariamente passa pelo “abraçar a humanidade”. No fim das contas, nos vemos realmente melhores do que somos nesses “espelhos do amor” que a existência nos doa: os amigos !!
Por isso, tenha muito cuidado ao quebrar os espelhos de sua vida: pode acabar substituindo a verdade pela ilusão; e o amor pela “associação”: e é fácil discernir quais são os melhores _ por serem reais!_ reflexos de nós mesmos...