quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Filosofia: aprendendo a viver à partir do aprender a morrer

       Artigo publicado no Jornal BAHIA HOJE, em 11/08/09

       A Morte: o inevitável caminho de todos os homens !!. Parafraseando o grande mestre (Sávio Rosa. Phd.): “nascer é uma probabilidade, viver uma incerteza, morrer, no entanto, é fatalmente determinado”. Sendo “a Morte” o grande evento da vida, _pois é a sua coroação_ pensá-la, discutí-la , confrontá-la, e aceitá-la... é tarefa de todo o ser, dito humano, que dignifique a sua existência: sim, pois é o poder criador e significador do humano que o distingue, dentre os demais seres vivos, o colocando na condição singular e única de pensar a “vida e a morte”, da perspectiva que lhe parecer relevante e dotada de significado..
         É aceitando esse status singular _o de sermos os únicos aptos a pensar sobre o inevitável destino de todos, o do encontro com a morte_ que proponho, intermitentemente, fazer dessa aptidão natural, uma experiência marcada pela intencionalidade de imprimir novos valores e significações em nossa existência, passando do meramente determinado e fatalístico, para a percepção do poder transformador, de na vida, dar-se o privilégio de pensar na morte, à fim de que o olhar se mude, e a prática seja ,na vida, prazer, aprendizado, sabedoria, afetividades gratuitas...sim, tudo de mais filosófico possível, quando se entende que o “filosofar sobre” é um “pisar o mesmo caminho de todos os dias com outros olhos... um desvelamento do que até outrora fôra natural”.
        Utilitarismo? Pragmatismo? Jamais. Antes é descobrir a relevância do filosofar pisando no chão da existência: é aqui que as coisas se verificam, legitimam, ou desvanecem.
       Em um viver cotidianamente frenético _ que é o contemporâneo_ todos correm, mesmo que por caminhos desencontrados, em direção ao mesmo ideal: a felicidade. Cegueira... ilusão...; pois ao se olhar um pouco mais atentamente a constatação da realidade é a da fragilidade, efemeridade da vida. Em sua própria constituição, a vida é passageira, é caravana..., é peregrina errante tendo a morte como companheira, e como fado. A famosa ópera “Carmina Burana” expressa intensamente o elemento trágico dessa nossa peregrinação; pois quem não sentiu _ou quem sabe tenha visto_ a veracidade destas estrofes?. Eis: “Oh destino, és como a Lua, mutável, sempre aumentas e diminuis; ah detestável vida ,ora escurece, e ora clareia; por brincadeira mente;miséria, poder, ela os funde como gelo. A sorte na saúde e virtude agora me é contrária; dá e tira mantendo sempre escravizado.Nesta hora sem demora tange a corda vibrante ; porque a sorte abate o forte,chorais todos comigo!”
          Morte e vida caminham amigas, e não se dedicar à tarefa de pensar a vida à partir da certeza da morte, é ser condenado à muito mais do que ver a vida passar, mas à “passar junto com a vida”. È garantia de _ se tiver a sorte de envelhecer_ ver sua boca se encher do “provérbio bíblico da sabedoria tardia, o Eclesiastes” : “chegaram os maus dias e não tenho neles contentamento algum”. Já graceja um dito popular americano: “a juventude é desperdiçada no jovem...!” , e essa é a minha preocupação: é com gente que se deixa tolher a fantasticidade de um viver exuberante e cheio de relevância, por estar apegado à questiúnculas , picuinhas mesquinhas, antipatias imotivadas; ou levado por tendências de nossa época, principalmente as de origem midiática. Roubaram-nos o sentido da vida...os valores mais respeitáveis, o gozo da família, a fidelidade na amizade, o valor próprio, o senso de propósito, e uma visão do futuro sem todas aquelas futilidades que sedimentam as ambições de nossa geração. Roubaram-nos a vida quando tiraram de nós a presença e gravidade da morte. Mutilaram-nos _e com nosso próprio consentimento_ quando descaracterizaram o viver diante de nós, arrancando-o seu elemento trágico constitutivo: a reverência diante da vida...e da morte.
         Independente de qual seja a crença que predomine (e as crenças têm, cada uma ao seu modo, um horizonte pós-mortis), o que é inadiável é: todos morreremos sim. Se morreremos , então vivamos com urgência; com relevância, alteremos a cadeia de prioridades de nossa existência aqui. Pensemos na vida como quem morre, para que não chegue o dia em que todo o acúmulo de “saber” seja amargo ao paladar de quem ,pra si mesmo, só herdou uma sepultura, e um epitáfio: “...devia ter vivido mais... amado mais...errado mais... ter sido mais feliz”. Se a finalidade da vida é a felicidade, atingi-la sem pensar a morte em seus termos radicais é impossível; (no tocante a mim) a filosofia (e o Evangelho) são os mediadores desse processo, remédio e instrumento na busca da finalidade última da vida. Ser feliz é a busca final, e isso torna o nosso agir no “durante” ,muito, mas muito mesmo, diferente...

sábado, 25 de julho de 2009

Perdão de pecados : prerrogativa do Divino e concessão do Divino ao humano.




Tem o homem poder para perdoar pecados? E se tem esse poder,se apóia em quais bases para isso?
Sem dúvida alguma,a questão faz fervilhar muitas outras dúvidas,discussões,querelas; pois é difícil _ quase impossível _ vindicar uma postura sem,radicalmente, se opor à outra. Assumir uma posição,de qualquer lado que seja, no que tange ao poder do homem de perdoar pecados, é acatar um extremo inalienável.
Têm-se duas posturas tradicionais _ e quase milenares_ a respeito do proposto assunto:


Somente Deus pode perdoar pecados, pois em primeira e última instância, é Ele o ofendido imediato de qualquer que seja o pecado cometido.Também,por ser Ele o único que possui o Status adequado para perdoar pecados: a irrepreensibilidade; ou melhor dizendo,Santidade. A Santidade do Divino o coloca em isolada e singular posição de conceder perdão ao intermitente pecador: o homem.


“Em virtude de sua autoridade divina, transmite esse poder aos homens para que o exerçam em Seu nome.” Os que posturam-se nesse pólo da questão,geralmente atribuem aos sacerdotes a extensão desta Divina Delegação: a do perdão de pecados.
É óbvio que esses dois pólos não encerram a questão ,mas,sem dúvida, agregam em torno de si ,a maior quantidade de aderentes.
Partamos agora para uma exposição um pouco mais detalhada destas duas frentes representativas.


1º Perdão como prerrogativa do Divino: só Ele pode...




“Assim como a confissão de pecados deve ser sempre dirigida a Deus, também o perdão também só pode ser obtido Dele, o direito de perdoar o pecado é prerrogativa de Deus, inalienável e intransferível, se Deus é o ofendido, só Ele pode perdoar o ofensor.”Rev . Valdir Facioni (Igreja do Evangelho Quadrangular).






Segundo o Rev. ,sendo Deus o maior ofendido,o perdão só deve ser obtido Dele.
Logo abaixo, um trecho da declaração que o coloca entre aqueles que conferem,somente a Deus,poder para perdoar pecados:




"Há alguns princípios Bíblicos que são básicos que diz respeito a confissão de pecados, o primeiro princípio que a Bíblia afirma a este respeito é que a pessoa a quem a confissão de pecados deve ser feita é a Deus, exclusivamente a Deus. O pecado é sempre falta cometida contra Deus, cuja Santidade é ofendida pela nossa maldade e cuja lei é quebrada pela nossa desobediência.o Salmista confessou: contra Ti, contra Ti somente pequei e fiz aquilo que aos Seus olhos parecia mal. Assim como a confissão de pecados deve ser sempre dirigida a Deus, também o perdão também só pode ser obtido Dele, o direito de perdoar o pecado é prerrogativa de Deus, inalienável e intransferível, se Deus é o ofendido, só Ele pode perdoar o ofensor.
A pergunta feita a Jesus por um dos seus inquiridores, constitui fiel interpretação do ensinamento Bíblico sobre este assunto; Quem pode perdoar pecados senão Deus? O direito de perdoar ou reter pecados, conferidos por Jesus não apenas aos apóstolos, mas a todos os seus discípulos, só pode ser entendido como de caráter declaratório...”




Não se pode deixar de levar em consideração que essa postura apóia-se sobre uma base de reinvindicações morais elevadas;e é isso que a torna forte: entender a possibilidade do perdão de pecados como prerrogativa do Divino,por ser Ele o aferidor da Justa Medida da Santidade. É um argumento de força metafísica, pois a base do argumento é de caráter transcendental: a Santidade de Deus. O problema é que torná-la uma questão imanencial talvez tenha sido um dos motivos dos maiores estragos causados pela chamada “Igreja Cristã”,que a tornou uma questão não moral,mas moralista...mas isso nos levaria a questões,por ora, desnecessárias.
Ninguém há de negar que Deus pode perdoar pecados,e que Seu Perdão é de extrema eficácia,inocentando o pecador de sua responsabilidade inerente no ato pecaminoso,e o lavando da culpa ,que feriria seu interior até arrastá-lo para caminhos mais distantes.Porém ,talvez o outro pólo da questão proposta (o 2º) possua elementos dignos toda a aceitação.










2º O Poder de perdoar delegado à uma Classe Superior.


Entre os de outro posicionamento,encontramos a Igreja Católica no outro pólo da questão.A “Igreja-Mãe” acredita que o cristão tem ,dada pelo próprio Jesus, a delegação de Seu Perdão. Os Apóstolos,e logo depois os sacerdotes, receberam Dele a autoridade para não só para perdoar pecados,como também retê-los.
Abaixo, um fragmento de uma declaração católica:


“Jesus Cristo é o que se ofereceu em sacrifício por nossos pecados; não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo (1Jo 2,2). Jesus Cristo deu aos Apóstolos e a seus sucessores o poder de perdoar os pecados pelo Batismo e a Confissão.
Existe o perdão pelos pecados?
Sim, existe o perdão dos pecados porque Jesus Cristo deu aos Apóstolos o poder de perdoá-los para reconciliar ao homem com Deus e com os irmãos.
Quais foram as palavras do Senhor ao conceder aos Apóstolos a potestade de perdoar os pecados?
As palavras de Cristo ao conceder aos Apóstolos a potestade de perdoar os pecados foram: "Recebam o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; mas a quem não perdoardes não serão perdoados"
Como os Apóstolos cumpriram o encargo de perdoar em virtude de sua autoridade divina, transmite esse poder aos homens para que o exerçam em seu nome. os pecados?
Os Apóstolos cumpriram o encargo de perdoar os pecados dando o sacramento do Batismo ao não cristãos e o sacramento da Penitência aos fiéis que pecam depois do Batismo”




“Disse-lhes Jesus de novo [aos discípulos]: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu vos envio. Dizendo isto, soprou sobre eles, e disse: Aquele aos quais perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; aqueles aos quais não perdoardes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20.22-23).
O texto citado acima é o maior abrigo dos que acreditam ter a Igreja recebido poder para perdoar pecados.Veja bem,não é qualquer homem, é a Igreja, mais especificamente em sua maior representatividade: na pessoa do medianeiro de Deus na Terra,o sacerdote. É muito conhecido o costume cristão–católico de confessar seus pecados aos sacerdotes e deles receberem a devida penitência (uma espécie de sacrifício pela culpa...) e o perdão dos pecados.Ele o sacerdote_ como representante de Deus na Terra,e apropriando-se do que diz a Escritura em Jo 20:22-23, literalmente,perdoa pecados (ou os retém) e libera o pecador para uma nova vida.
Isso nos faz pensar se essa postura está mesmo totalmente in-adequada. Certo que,fazer repousar sobre um homem a delegação do Divino,numa ação estritamente divina,seria arrogância e falsa pretensão;mas talvez exista uma instância em que o perdão de pecados seja posse da Igreja Cristã,e isto visando um fim projetado na Mente Divina.Vejamos o que diz o renomado apologista cristão Norman Geisler,quem sabe,propondo uma 3ª via,um ponto de convergência entre as duas posturas tradicionais.Cito:
“Essa passagem dá suporte à posição católica de que os seus sacerdotes têm poder de perdoar pecados? PROBLEMA: Os católicos romanos declaram que Jesus deu aos seus discípulos o poder de perdoar pecados, e que esse poder passou para os sacerdotes católicos através dos séculos. Esse texto dá suporte a tal posição? SOLUÇÃO: Jesus de fato deu aos seus discípulos o poder para perdoar pecados, e esse poder ainda permanece até hoje. Entretanto, ele não é exclusivo dos sacerdotes católicos. Todo crente em Jesus possui o mesmo poder com base em sua confiança na obra completa realizada por Cristo. Observe o contexto da passagem”.
“Primeiro, muitos vêem isso como uma extensão do poder prometido em Mateus 18.18 de ligar e desligar com as “chaves do reino dos céus”(Mt 16.19). Esse poder é dado a todos os apóstolos, e não somente a Pedro. À medida que a missão da Igreja se estende “até a consumação do século” (Mt 28.20), Cristo está “presente” para perdoar pecados com todos aqueles que pregarem o Evangelho, em qualquer tempo ou lugar. Além disso, é nesse versículo que está a passagem paralela de João a respeito da grande comissão. Jesus a introduz com as palavras: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21). Mas não são apenas os clérigos (oficiais da igreja) que são comissionados a servir a Cristo; cada crente chamado para ser uma testemunha (cf. Mt 28.18-20; 2 Co 4.1ss)(...) ....todos os crentes, portanto, têm esse mesmo poder de PRONUNCIAR O PERDÃO DE PECADOS [o realce é nosso}, como testemunhas das boas novas de Cristo por todo o mundo. Nesse versículo não há absolutamente nenhuma menção de que esse poder fosse ficar residente em apenas um grupo sacerdotal ou num determinado grupo de clérigos.


O modo como o Dr.Norman Geisler põe a questão nos faz pensar que exite sim, uma instância em que o homem tem poder para perdoar pecados: no cumprimento do chamado que de uma vez por todas foi outorgado à Igreja;a de Sacerdócio Real. Todo que é nascido de novo debaixo dessa Graça _ a do perdão dos pecados mediante o sacrifício vicário do Filho de Deus,Sumo Sacerdote segundo a Ordem de Melquizedeque _ tem Dele,a Comissão de perdoar pecados,de maneira anunciadora.
São homens comuns que, agora na condição de sacerdotes do Reino _chamado esse que é de todo cristão_ fazem ecoar o Kerigma ( proclamação, do grego.) da Graça Maravilhosa de Deus o Pai,que por meio de Seu Filho nos perdoou os pecados e nos fez herdeiros de boas novas: novidades de remissão dos pecados, e de redenção em Seu Nome Glorioso.
Dessa maneira,respondendo a questão do início do texto ( “Tem o homem,poder para perdoar pecados...?”) a minha resposta tenta equilibrar os dois pólos principais da questão,e respondo com o título que dei ao mesmo: prerrogativa do Divino e concessão do Divino ao humano.Originalmente só Ele pode,mas nos fez uma concessão em sua Grande Comissão.
E no interesse de fechar esse texto buscando uma breve precisão do que foi abordado _ e defendido_ ,convido mais uma vez o Dr.Norman Geisler, para encerrar o início dessa discussão:
“Os comentaristas discordam se esta comissão se aplica somente aos discípulos ou a outros, também. Jesus confere-lhes o poder de perdoar ou de reter os pecados. Em virtude da sua íntima comunhão com Cristo, eles têm autoridade de agir em Seu nome; tornaram-se veículo do perdão divino e agentes ou da remissão, ou da retenção, do pecado. Este poder que lhes foi outorgado consiste em proclamar, com autoridade, o perdão mediante a morte vicária de Cristo. A autoridade de Cristo lhes é concedida pelo Espírito que mora neles. Esta autoridade não se limita aos ministros consagrados da Igreja mas abrange toda a Igreja, que deriva sua autoridade do Espírito que vive nela e dos ensinos do Cabeça da Igreja”.








Abaixo,algumas referências bíblicas:




Mt 6:14-15
Mt 9:5-6
Mt 18:21
Mt 18:35
Mc 11:26
Mc 5:21
Jo 20:23
II Co 2:7
II Co 2:10
II Co 13:2
Tg 5:14,15,16,19 e 20.




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terça-feira, 30 de junho de 2009

A importância do Ensino de Filosofia para a formação do sujeito crítico e reflexivo.




“Ora, o sentido (importância ) do “Ensino de Filosofia”reside nisso: auxiliar crianças, jovens e adultos a serem capazes de realizar a maneira filosófica de estar constituindo o sentido de suas existências e de, ao fazê-lo, e estarem constituindo o sentido do seu mundo o que,na verdade, é parte fundamental e necessária da constituição de si mesmos e do mundo humano.” (Marcos Lorieri, in Revista Brasileira de Filosofia; pag.11)


       Introdução

     Em tempos de grande questionamento em relação ao retorno da disciplina de Filosofia ao Currículo Escolar do Ensino Médio, e de sua inserção em vestibulares em todo o país, suscitam-se várias questões quanto à sua utilidade, preponderância, atualidade em relação às mudanças no mundo contemporâneo, enfim, de sua presença, novamente, no elenco das disciplinas que devam compor a grade curricular nas escolas de ensino fundamental e médio na República Federativa do Brasil.
       Faz-se necessário, então, uma breve análise de alguns elementos constituintes da própria Filosofia, e com isso, legitimá-la, não somente como “candidata” a integrar o corpo de disciplinas da/na escola, mas também _ e essa é a intencionalidade que marca o presente texto_ de demonstrar o quanto ela, A Filosofia, carrega de imprescindibilidade para a formação de um sujeito reflexivo e crítico; em expressões sinônimas: um ser “pensante” (no sentido de pensar a realidade em que está inserido); e crítico, no sentido de pô-la (a realidade) em “crise”, à fim de transformá-la.
        Sim, sei que a escolha de seguir por esse caminho textual me poria na aclamada discussão inócua quanto à “utilidade” ou “inutilidade” da Filosofia, valorizando-a, ou corrompendo-a (como diria alguns nobres colegas): no entanto , essa querela já está ultrapassada , e parto do pressuposto resoluto da necessidade _e “utilidade” sim_ da Filosofia, e de seu ensino na formação de um ser que corresponda ao ideal antropológico outrora buscado na Grécia Antiga; o de um homem integral, pura ação, dentro (à partir do “livre pensar”), e fora (atuando em seu contexto social,familiar, cultural, político, e histórico.
        Elegi alguns elementos constituintes importantes da Filosofia, à fim de propor a importância de seu ensino, tendo como fio condutor desse processo a intencionalidade premente de formar, por meio de seu conteúdo, como nas palavras de Mario Lorieri “um ser diferenciado e superior”, entenda-se superior no sentido de estar acima da média, e da mediocridade do cotidiano. Eis os elementos...


            Especificidade do conteúdo

          O primeiro elemento (não em ordem de importância) que a Filosofia fornece para obter-se o êxito na formação do sujeito têm a ver com especificidade de seu conteúdo. Essa especificidade é marcada pela abordagem de temas relacionados à questões , na maioria das vezes, relegadas pelas ciências e disciplinas da contemporaneidade.
          Dar ao indivíduo a oportunidade de poder “apreender e transformar” em conceitos questões essenciais de sua experiência humana, tais como a morte, o Estado, a política, a existência ou não de Deus(es) , a religião, a arte, e a própria historicidade da constituição do homem tal como o conhecemos...; são apenas algumas das possibilidades oferecidas pelo contato com a Filosofia,e que atuam como elemento imprescindível na formação do indivíduo. Mas ,ora, por que? Afinal de contas, outras “ciências” também, de alguma maneira, não lidam com as mesmas questões? A resposta seria: sim... e não !!
         A resposta ambígua à essa questão deriva de aspectos simples e facilmente verificáveis: as ciências da contemporaneidade em sua própria alcunha revelam a sua maneira de abordar os problemas que envolvem o homem... são as chamadas “ciências particulares”. Sabemos que a particularização e fragmentacão do saber se deram por razões de poder alcançar um aprofundamento de certos fenômenos da experiência humana, e grande legado têm-nos deixado. No entanto, a Filosofia propõe uma desfragmentação do humano na compreensão do mesmo, e dos fenômenos que o compõem e que consituem a sua práxis no mundo. E é esse caráter específico no trato das principais questões da existência que apontam para a importância do Ensino de Filosofia para a formação do indivíduo: sua especificidade empresta ao homem um olhar diferente da realidade, das cismas do mundo e ao seu redor, e principalmente, de si mesmo. Novo olhar, nova compreensão, novo modo de atuar e de construir a realidade.



            Trato ou manipulação da multiplicidade em seu conteúdo



         Outro elemento constituinte da filosofia, e que reforça a importância de seu ensino e de seu papel na formação de um homem reflexivo e crítico. Desde a sua origem, a filosofia jamais se contentou em dar conta de aspectos simples, imediatos e particulares do mundo. Seu “modo” de operar sempre orientou-se na busca pela compreensão da totalidade das coisas: um trato que abandonasse a unilateralidade e parcialidade presentes na “tirania do imediatismo” que assola o viver corriqueiro e cotidiano.
         O fazer filosófico sempre foi marcado pela ambição em encontrar respostas para as questões do viver humano através de um modo que abarcasse a multiplicidade. As famosas empresas filosóficas dos pensadores originários (os “pré-socráticos”) já apontavam para aquilo que seria o destino da Filosofia: buscar o princípio e causa primeira das causas de uma maneira, contudo, que não desprezasse nenhum aspecto sequer da realidade tal como ela era percebida. Essa busca somente acontece, legitimamente, na medida em que abraça-se a multiplicidade que compõe a experiência humana, e qualquer explicação da mesma deve atingi-la em cada aspecto e manifestação.
      E que relação afinal essa retórica aparentemente circular pretende demonstrar, entre o elemento constitutivo da Filosofia exposto acima, e a sua importância na formação do sujeito; como pretende-se no presente texto? A relação, penso, é bastante óbvia: essa tendência à multiplicidade, sendo exposta incessantemente ao indivíduo, empresta-lhe uma percepção das coisas dotada de certa liberdade interpretativa, liberando-o para o movimento de rejeição das unilateralidades imediatas do cotidiano, impregnadas de dogmatismo, que acabam por fim, engessando o sujeito em uma compreensão parca da realidade, obscura, em que a unilateralidade será sempre pressuposto de fundamentalismos e cismas. A importância do ensino de Filosofia, vendo dessa perspectiva, está em propor ao indivíduo um modus vivendi marcado pela tolerância, postura cética diante de radicalismos exacerbados, dotando-o assim de uma certo posicionamento “aberto”, e que considera as múltiplas possibilidades presentes nos fenômenos que testemunha no cotidiano.
        “Afinal, é nessa multiplicidade de trocas de relações que vamos constituindo o sentido desse nosso constituir-se na constituição do nosso mundo humano”.



            O emprego e a articulação de sentido da experiência do indivíduo


        “O papel da Filosofia é o de estar articulando o sentido ou a significação da existência humana na realidade, o que implica a articulação do sentido ou do significado desta mesma realidade. O que implica, na verdade, uma constituição, sempre renovadoramente feita, que constitui ao mesmo tempo e com todas as suas outras determinações, o próprio homem e o seu mundo”(LORIERI, página 10).


         Sem dúvida, a maior de todas as contribuições da filosofia ao homem, e que mais uma vez, a legitima como importante e imprescindível em sua formação plena: o empréstimo de sentido, de significado à existência.
         Sim, a filosofia emprega sentido na experiência humana, e o habilita a articular os sentidos advindos de suas mais diversas percepções. Toda a experiência humana poderia tornar-se (dado o seu milenar e habitual uso) em uma construção cuja finalidade seria a expansão, e exploração, e livres de qualquer questionamento distante dessa realidade material predominante. No entanto, milênios se passaram (ou milhares...quem sabe milhões?) e questões inquietantes _as mesmas em qualquer geração_ voltam a perturbar a experiência humana. O que estou afirmando com isso? Respondo citando o Lorieri: “o sentido (importância) da Filosofia está na necessidade da Filosofia...a prova disso é histórica; a humanidade sempre precisou da Filosofia, ou dessa maneira de constituição de sentido”.
         É importantíssimo que, pelo ensino da Filosofia, o homem seja intermitentemente exposto à esse modo de perceber as coisas que predomina no fazer filosófico. A filosofia empresta sentido e significado às coisas na medida em questiona sua origem, validade, legitimidade, verdade, eficácia, virtude, nobreza; e dessa maneira se diferencia de qualquer outro “fazer científico”, principalmente por possibilitar incursões profundas nas questões que, mesmo imperceptíveis, tornam a nossa experiência ,profunda, evolutiva, e dotada de significado. A filosofia demonstra ao homem que é ele quem cria a realidade, constitui-lhe e e com significados, carrega-a de sentido, e que é esse fazer do mundo que opera nele mesmo, no homem , um fazer-se a si mesmo; pois na medida que constrói também é construído; que discerne as coisas significando-as, é também marcado pela mesma significação, e se vê “alterado” e um “sempre novo” em sua antiqüíssima experiência.
        Dessa maneira , reitera-se a atualidade da discussão sobre a importância do Ensino de Filosofia: sua presença é predominantemente incontestável, enquanto se pretenda constituir um ideal de homem que seja reflexivo em seu viver cotidiano (e sendo assim, fora do “comum”), crítico,no sentido de pôr em crise as verdades falsas das imediatidades do cotidiano, e que tanto decepam a percepção sensível e apurada das coisas, que deve sim considerar as variadas nuanças da experiência humana; na formação de um homem cujas faculdades sejam aguçadas pelo rigor do pensamento filosófico, arrancado assim da mediocridade da “resposta pronta”; de um indivíduo que em sua empresa na compreensão do mundo seja marcado pela noção de multiplicidade, de modo que isso redunde em um ser que atue de maneira tolerante, inteligente, sensível ; e que intencione com a sua ação no mundo ,significá-lo ,renová-lo, mudá-lo, transformá-lo... e se possível, destruí-lo novamente: o que importa é que , este indivíduo entenda que o mundo é criação de si mesmo, por ele significado; realização propriamente sua, e que pensar esse fazer (herança da Filosofia) é aprimorar-se enquanto homem... de verdade, integro, inteiro, pensante e atuante.








Referências Bibliográficas


LORIERI,Marcos A.O Sentido do Ensino de Filosofia; in Revista Brasileira de Filosofia de 1.Grau. Centro Catarinense de Filosofia do 1.Grau; Santa Catarina, 1993.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Plano de Aula - Parte I


Plano de Aula (embrião da aula a ser ministrada aos alunos da Escola Municipal do Salobrinho; em 15/06/2009). Foi tomado como base teórica os 4 conceitos do Plano de Aula" , de Silvio Gallo."



Introdução

A Morte; eis o tema proposto para cativar-nos neste período. Pensá-la, discuti-la , confrontá-la, e aceitá-la... esta é a tarefa de todo o ser, dito humano, que dignifique a sua existência: sim, pois é o poder criador e significador do humano que o distingue, o colocando na condição singular e única de pensar a “vida e a morte”, da perspectiva que lhe parecer relevante e atraente.
É aceitando esse status singular _o de sermos os únicos aptos a pensar sobre o inevitável destino de todos,o do encontro com a morte_ que nos propomos a fazermos dessa aptidão uma experiência que imprima novos valores e significações em nossa existência, passando do meramente determinado e fatalístico, para a percepção do poder transformador, de na vida, dar-se o direito de pensar na morte, à fim de que o olhar se mude, e a prática seja na vida, prazer, aprendizado, sabedoria, afetividades gratuitas...sim tudo de mais filosófico possível, quando se entende que o filosofar sobre é um “pisar o mesmo caminho de todos os dias com outros olhos... um desvelamento do que até outrora fôra natural”.
Filosofar é olhar para o mesmo, e ver um outro. É hora de fitarmos a tão familiar “morte” com um olhar novo; de ressignificação da vida. Sim, pensando a morte para ressignificar a vida, imprimindo sim, valores, conceitos firmes, enchendo as coisas com cargas valorativas que valorizem a experiência “aqui e agora”, e que a torne cheia de significado.
Utilitarismo? Pragmatismo? Jamais! Antes é descobrir a relevância do filosofar pisando no chão da existência: é aqui que as coisas se verificam, legitimam, ou desvanecem.
Pensemos na vida como quem morre, para que não chegue o dia em que todo o acúmulo de “saber” não seja amargo ao paladar de quem ,pra si mesmo, só herdou uma sepultura, e um epitáfio: “...devia ter vivido mais... amado mais...errado mais... ter sido mais feliz”. Felicidade...princípio e finalidade última da vida.


Sensibilização: Audição da música “Epitáfio”, da banda de rock nacional, Titãs. Penso que seja interessante acompanhar a canção lendo a letra, impressa e entregue a cada aluno.
Segue abaixo:




Devia ter amado mais


Ter chorado mais


Ter visto o sol nascer


Devia ter arriscado mais


E até errado mais


Ter feito o que eu queria fazer...


Queria ter aceitado


As pessoas como elas são


Cada um sabe alegria


E a dor que traz no coração...
Devia ter complicado menos


Trabalhado menos


Ter visto o sol se pôr


Devia ter me importado menos


Com problemas pequenos


Ter morrido de amor...


Queria ter aceitadoA vida como ela é


A cada um cabe alegrias


E a tristeza que vier...
Devia ter complicado menos


Trabalhado menos


Ter visto o sol se pôr...

O acaso vai me proteger


Enquanto eu andar distraído


O acaso vai me proteger


Enquanto eu andar...




Problematização e Investigação:

O que é a morte? ”... esse é o primeiro problema a se levantar. A proposta é “dissecar” a palavra em suas muitas significações, desde que não escapem para uma metafísica evasiva e escorregadia, tirando assim o propósito da aula: dar à filosofia o status de mediadora do homem em direção à finalidade última da vida _a Felicidade_ e é necessário passar por um pensar sobre o que seja a morte. O modo como vemos a morte, determina o como percebemos a vida.
Nesse instante, “Problematização e Investigação” seriam apresentados (necessariamente) aliados. A morte é um “problema natural do humano”, e logo se fomentaria uma discussão sobre sua aparente antítese: a vida. A investigação se estabeleceria _sempre com orientação do professor_ com abordagens em torno das contribuições advindas de discussões que consideram os diversos aspectos desse assunto: antropológico, científico, bio-ético, religioso, “metafísico”... até chegarmos ao instante que prepararíamos para a abordagem desejada: a Ética. O “pensar a morte” como elemento ressignificador da vida... aprendendo a viver com relevância à partir do aprender a morrer.

Conceituação:

A base teórica seria a “Antologia de Textos de Epicuro”, especificamente o Texto I (A Filosofia e o sua finalidade), e o Texto IV (A Ética).
Texto escrito de forma simples, aforismático ,em muitos aspectos muito parecido com um livro de provérbios, o que tornaria praticável a leitura paralela à discussão e conceituação, haja visto que são textos de compreensão simples , e isto por serem escritos à fim de tornarem-se para a própria vida.
Selecionar os “aforismos” em que o “conceito” de morte apareça com bastante carga valorativa, haja visto que essa é a intenção do Epicuro: pôr limites no “pensar a vida” (a morte como último instante...sem deuses e além-mundos) para que, ao pensar o limite da vida e o seu fim, o caminhar no hoje seja carregado de novo siginificado.
A Ética epicurista nasce desse pensar, que revaloriza as coisas já deixadas de lado na metrópole grega (o que em muito nos assemelha) à partir da certeza premente da morte.
A finalidade da vida é a felicidade, atingi-la sem pensar a morte em seus termos radicais é impossível; a filosofia é a mediadora desse processo, remédio e instrumento na busca da finalidade última da vida. Ser feliz é a busca final, e isso torna o nosso agir no “durante” um tanto diferente. Epicuro ressignifica o poder e o valor da Amizade, do Amor, do prazer... mostrando uma Ética de caráter humanista, baseada no homem e em sua satisfação: saudável, amigável, isenta de paixões arrebatadoras e enlouquecedoras.

domingo, 19 de abril de 2009

A esperança que sou para outros: uma meditação para fora de mim...‏









Hebreus 13:1-3






1 PERMANEÇA o amor fraternal.
2 Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos.
3 Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo.




Romanos 15:7 = Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus.




Romanos 12: 21 = Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.








Quebrando a seqüência que havia proposto para a ordem de postagens do blog, gostaria de falar sobre mais uma outra _e súbita, dessa vez_ meditação de meu coração. Mais uma sobre "esperança"...! Dessa vez, porém, uma reflexão sobre a esperança que represento para outros. Sim, sou esperança para outros... você também é esperança para muita gente...
Estava andando pela Av. Princesa Isabel, ontem à noite, por volta das 20:15 hs (bermuda, tênis, Mp4 no ouvido...bem à vontade), quando , de repente, olhei para o lado...e enfim... não vi nada que não seja visto todos os dias e em outros muitos lugares: uma mulher, dormindo em uma posição abandonada, bem ali na calçada. Provavelmente estava bêbada _ou drogada_ o que me fez pensar em como ela estaria desprevenida ,quando o frio que já tem nos visitado nesse início de outono, a encontrasse.
Sei...! 3ª feira, 14 de abril, 20:15 hs, gente bonita passando pra todo lado, namorados de mãos dadas, gente bebendo... um cenário tipicamente óbvio para essa noite, e nesse lugar. O que tem de mais nisto? Ora, talvez , pra você, nada...! Pra mim, também não: até naquele instante...
Quero referir-me somente ao impacto que trouxe sobre mim... e só. As razões podem ser muitas, desde a culpa enrustida, ou uma sensibilidade exacerbada...; mas e daí ? O modo como se entenda não vai me tirar o que importa, realmente, na vida: o significado. Significa...; significou-me muito.
Ver a miséria daquela mulher foi um "convite" triste e terno me chamando "pra fora"...
Ensimesmado como sou, cheio de processos aceleradíssimos de pensamento (e ,em sua maioria, voltados para as minhas dores e queixas...!!), me vi quieto, ali, com aquela imagem gravada em minha memória. Continuei andando, e a imagem foi comigo....
E pensei... e entristeci-me... e pensei novamente... me alegrei... um misto de emoções.
Um turbilhão de experiências particulares me habitaram de uma só vez... misturadas ao conflito com esse “mundo de fora”, e que, _meu Deus!!_ me toquei de que ainda existe. Somos nós humanos que criamos nossos próprios mundos, o alimentamos com projetos, nutrimos sentimentos valorosos por situações que _depois percebemos_ não deveriam receber tamanho empenho; amamos o mundo que criamos em nossa “fábrica de ilusões”, como que amando ao próprio filho.
“Nos perderemos entre monstros de nossa própria criação...serão noites inteiras, talvez, com medo da escuridão”. Não precisa nem dizer, pois dito está: não suportamos “manter” o mundo que criamos... precisamos de Realidade, de vida real _com todos os elementos trágicos que a compõem_; de amor real, amizades reais, decisões reais, dores reais: só assim teremos a esperança de um mundo cujo chão seja firme, o caminhar focado, e sobre a nossa cabeça esteja a maior das realidades... a do Governo do Amor.
A experiência “simples e comum” daquela noite me despertou para duas lições simples e próprias:




* Existe vida fora de mim: pra além de meus egoísmos inflamados; honras maculadas, dores irreais (e reais também!)...existe vida de verdade “lá fora”, pra somente nesse “sair de mim”, eu me torne homem, humano, gente...de verdade: e a verdade não teme ser...só é.




* Há esperança para qualquer pessoa (homem e mulher) , desde que alguém se disponha a ser esperança para ela. De uma perspectiva cristã, temos em Jesus o Filho de Deus, a maior representatividade desse conceito: Nele, Deus, feito carne e dor comuns, temos a esperança de redenção, e após termos conhecido, não há nada mais que não possa ser inflamado pela esperança de podemos “ir mais longe”, sermos melhores... com vidas melhores.


Isso tudo, por que Deus um dia , olhou-nos “abandonados nas calçadas miseráveis de nossa soberba e arrogância”, e nos tocou o ombro com esperança, e disse: “Ei, rapaz (moça) , ainda tem jeito... não precisa ser o fim”.


Essa é a marca que me impressiona: assim também, a história de muitos (já decretadas à falências emocionais ,de propósitos, e de significados) que já esperavam a morte chegar, viram a vida abrir-se diante de si; ... um futuro se mostrando possível.


Tudo isso ,somente por causa de um toque: toque de esperança...de não desistência...de fé... de amor que sempre tudo crê...
Muitos já me foram motivos de esperança... gente comum que me despertou “para crer contra a esperança” , e me levantar contra os muitos “nãos” da vida...! Sei também, que muitos entenderam seu valor e suas possibilidades de serem gente de propósito, por terem recebido de mim esperança. Fui e sou esperança pra muitos. Me refiro somente, ao simples fato de, pisando nesse chão, o quanto precisamos acreditar, e sermos acreditados; transpondo limites impensáveis...! Pode acreditar: isso tem o poder de “mudar o mundo”.




Se tenho alguma “glória” na vida (e me glorio Nele) é esta: nunca ter desistido de ninguém. Nem do amigo... e nem mesmo daquele que se faz meu adversário e de outros.




Quero ser esperança para aquele que já decretaram sus sentença e seu fim...




Quero ser esperança para o desesperançado... para o que não acredita na vida,mas que ainda pode ser feliz...




Quero ser esperança para quem acredita que não pode ser amado (a) , e que ninguém mais achará que ele (a) “vale a pena”...




Quero ser esperança...e só. Pois , não é questão de altruísmo, ou de falsa piedade. É questão de amor. Amor ao humano (logo semelhante à mim), amor ao desafio de abraçar o in-abraçável (como Jesus fez muitas vezes)... esperança para aqueles cujas palavras nem tem mais crédito, mas que ainda são carregados de um desejo de Verdade.




Quero ser esperança, por que penso que, dessa maneira não haveria assistencialimo , beneficência,etc... (pura conceitualidade) ; mas somente comunhão no “pisar desse chão” que a todos nós, um dia, castiga. É preciso acreditarmos uns nos outros...






Nele, que acolheu-nos uns aos outros em amor, e disse que assim fizéssemos...








Theo Fagundes

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Não tenha medo do amor...!


Em virtude de ser uma das pessoas que mais me enriquecem no entendimento do Evangelho que é Caminho para a Vida (e Vida, somente Nele, Jesus), e que mesmo colocando o espelho da Verdade de Deus diante de mim, nunca fez-me sentir culpado por ser, mas antes, grato por ser aceito na Graça que me ama como sou, e que não me mudará em um "outro" ,mas em um "eu mesmo" conforme Ele, o Cristo; postei logo abaixo um texto dele,nesse meu "Diário-almático-virtual". Seja bem-vindo, Rev. D'Araújo Filho !!



NÃO TENHA MEDO DO AMOR!



Se sem amor nada aproveita, então, sem amor não há vida, pois, caso qualquer coisa gerasse vida, o amor seria apenas uma outra alternativa de vida como existência.

Quando Paulo disse que o amor era o caminho sobremodo excelente, ele não dizia que sem amor há um caminho de vida, ainda que inferior.

Não! Afinal, João decretou que Deus é amor, e, também, que aquele que ama conhece a Deus, e que quem não ama jamais o viu.

O amor não é romântico e nem fantasioso. O amor lida com o que é; sem ficção. Nele cabe o romance quando essa é a relação, mas suas bases são bases de verdade e realidade.

Amar é, segundo Jesus, uma decisão espiritual a ser praticada em relação a tudo e todos.

No entanto, o amor tem que ser como o de Jesus. Amor diferente do amor de Deus não é amor.

Pode-se ver Jesus escolhendo amigos livremente. No entanto, Ele nunca escolheu a quem amar. Ele amava quem Ele via e passava o Seu caminho.

Sim! Amava sempre. Amou os amigos e discípulos, mas amou a todos os inimigos.

E quando se diz que Ele amou alguém, como foi com o “jovem rico”, se o vê amando sem romance. Não! Ele ama apenas com amor, não com emoções empolgadas.

Também se vê que no amor de Jesus o objeto do amor, o “jovem rico”, mesmo amado, é deixado seguir o seu caminho de auto-engano. Afinal, o amor deixa livre sempre.

De fato, o amor não é dono de nada e nem de ninguém.

Quem ama não possui e nem é possuído.

O amor não é um encontro de serpentes famintas engolindo uma a outra.

Amar o inimigo é uma decisão, assim como amar a mulher que um dia se amou e se ama.

Entre homem e mulher o amor quase sempre surge como paixão, desejo e encantamento; porém, somente se mantém como amor mesmo, o qual não tem nada a ver com as miragens iniciais do amor embrionário, se for alimentado pela decisão de amar.

Muitas vezes ouço as pessoas dizerem que querem um amor.

Penso:

Não quer amor nada. Quer apenas um Pet para possuir e ser possuído.

Afinal, quem ama não quer nunca um amor, pois pode amar a todos, indiscriminadamente.

Quem quer um amor quer uma posse, quer um objeto, quer um domínio de propriedade humana.

Cada dia mais é minha convicção que aquele que cresce em amor cresce em tudo na vida; da mente aos atos de vida verificável.

Quem quer expandir a mente deve amar, pois, somente no amor pode-se crescer para atingir o que quer que seja nosso maior potencial nesta vida e na vida porvir.

É triste ver que as pessoas creiam que o amor é apenas um confeito de bolo fraterno e humano, sem que vejam que o amor é a própria vida, e que um ser humano estará tanto mais vivo quanto mais amar com o único amor que existe em projeção eterna: o amor de Deus, que é aquele que tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta; e que jamais acaba.

O amor pode mudar de configuração conforme a relação. Porém, uma coisa que o amor não sabe é desamar.

Não há mistério. Sim! Vida é amor; e quem ama está no caminho de todas as coisas.

O amor é a síntese única de tudo o que faz a existência acontecer.

E se estamos falando da vida no espírito, nada há que possa ser real e verdadeiro sem amor.

Portanto, quem quer vida eterna, que busque amar; fazendo as decisões do amor todos os dias. Sim! Sem nunca se arrepender do amor.

Escrito pelo Rev.Caio Fábio D'Araújo Filho.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

* A esperança acima da dor de "perder/entregar" o que mais se ama: Abraão,e a grande lição e imagem arquetípica da liberdade que se alcança ...






Gênesis 22

1 E ACONTECEU depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.
2 E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.
3 Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque seu filho; e cortou lenha para o holocausto, e levantou-se, e foi ao lugar que Deus lhe dissera.
4 Ao terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe.
5 E disse Abraão a seus moços: Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali; e havendo adorado, tornaremos a vós.
6 E tomou Abraão a lenha do holocausto, e pô-la sobre Isaque seu filho; e ele tomou o fogo e o cutelo na sua mão, e foram ambos juntos.
7 Então falou Isaque a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?
8 E disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos.
9 E chegaram ao lugar que Deus lhe dissera, e edificou Abraão ali um altar e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha.
10 E estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho;
11 Mas o anjo do SENHOR lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.
12 Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho.
13 Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho.
14 E chamou Abraão o nome daquele lugar: O SENHOR PROVERÁ; donde se diz até ao dia de hoje: No monte do SENHOR se proverá.
15 Então o anjo do SENHOR bradou a Abraão pela segunda vez desde os céus,
16 E disse: Por mim mesmo jurei, diz o SENHOR: Porquanto fizeste esta ação, e não me negaste o teu filho, o teu único filho,

Hebreus 11:17-18 Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito.
Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar...


Gálatas 3:6 Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.


Assim como em todos os textos que por hora já foram postados aqui, e também em relação aos que serão; não há de minha parte, a intenção de abordar os temas propostos de uma perspectiva minunciosa e detalhada: nem mesmo teria condições pra isso. E como isso aqui é um "Diário Virtual" (e em um diário se derramam as coisas do coração...), estou aqui somente pra dizer/escrever: "meu querido diário...".
Muito já se falou sobre Abraão e sua difícil decisão diante da Voz que do céu pediu-lhe o que mais amara; e que do próprio Deus havia sido lhe dado, por promessa... e cumprimento. Mais ainda poderia ser escrito...! Quero porém falar do "grande pai da Fé" e de sua caminhada rumo à Moriá, naquela específica "Hora da Grande Agonia".
Abraão é, pra mim, a imagem arquetípica plena de um "nível" de liberdade nas emoções,no entendimento...no coração, que só pode ser desfrutada por aqueles que aprendem que ,pisando no chão desta vida, perder e ganhar caminham de mãos amarradas... e que após o momento "moriático da alma" tudo é resignificado; e até mesmo perder pode ser prelúdio de um ganho mais excelente, como diria o Rev. D'Aráujo Filho.
Não querendo me estender (coisa que não consigo com tanta facilidade...) gostaria de mencionar alguns conceitos que minha alma em , estado convulsivo, extraíram desse texto; são eles: imagem arquetípica; liberdade; entrega; esperança...
Imagem arquetípica / liberdade : a que me refiro com isso? Imagem ou símbolo que em si mesmo reúne os atos históricos que em TODAS as eras e em TODOS os homens incidem com as mesmas implicações e exigências. Exatamente isto: um princípío; e nesse caso, princípio de liberdade do/no ser. No dilema do Pai da Fé, vê-se o dilema de todos os que, amando tanto o que recebera e logo após vendo ser-lhe "tirado", encontram-se na bifurcação da existência: o dilema entre o “deixar ir, entregar...” e o “manter o amor cativo ,pra depois tornar-se cativo do que ama”, aprisionando seu ser; escravo de uma dádiva. Em Abrãao, aprendo que na terrível dor de entregar/perder, eu sou o primeiro a ser livre, e que o amor libera ao que ama mesmo quando esse , ao ser sacrificado, parece levar nossas entranhas. Aprendo que a rendição e a entrega não são desistências, mas um ato de liberdade, libertando dos valores que atribuímos às coisas, quando na verdade, o Moriá nos mostra o que , de fato, tem valor e maior importância: e não é o “Isaque”. Depois de Moriá as coisas invertem de valor diante de nossa percepção.

Entrega / Esperança: “ Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar...” . A mais linda e marcante das lições que aprendi com Abraão é esta: a entrega não é sempre sinal de perda, mas quem sabe, de um recomeço.
Sem questionar ele obedeceu à Voz que lhe convidara para a Dor, e confiado em Quem lhe falara, salta para um abismo absurdo: pois que loucura é esta que, além de acreditar que era Deus quem lhe falara, ainda por cima assume a responsabilidade de agir conforme a esperança louca de seu coração? Sim,pois conforme a escritura, ele “creu contra a esperança, e por esta fé foi justificado”. E mais uma aprendo....! Aprendo que a entrega radical à Deus é esperança pra além da dor e da tirania do tempo; e que se existe uma “esperança” (no sentido de uma ordem sucessiva de acontecimentos...) contra mim, eu serei aquele que contra a “esperança” crê com Esperança. Aprendo que não preciso ver no fim o fim...e na morte o último decreto, antes de tudo, considerar que Ele, o que me pede o “Isaque” é fiel para cumprir a promessa que me fez (que é exatamente o que agora Ele me pede!!); e que, ainda que a morte e o desespero sufoquem a vida, Ele é poderoso pra fazer ressurgir da morte a “vida” e a “promessa”.

Depois desse encontro “moriático” na alma, desse confronto no altar do coração, o que se percebe é que enquanto caminhamos nesse processo de rendição ao Pai de Amor,e de a Ele tudo entregar, nosso coração é mudado, nossa “balança” recebe novos pesos...; a fidelidade é provada, e do Senhor se ouve: “porquanto agora sei que Me temes, e não me negaste o teu filho”, e isto como sinal de ajuste de significâncias no coração. Em Moriá o coração é direcionado para a Única Fonte de satisfação, e o que antes tinha valor só continua assim se for ajustado ao seu lugar devido.
Dá-me, oh Deus, esperança para além da dor, e para além da mesquinhez de meu coração , que atribui muitas vezes, valor ao que é êfemero e insuficiente para satisfazer meus anseios mais profundos. Sei que és fiel para cumprir tudo o que prometes... mesmo quando um “Moriá” atravessa nosso caminho, fazendo-nos acreditar que é hora de morte, quando na verdade é recomeço de uma nova vida, e esta, tendo sempre o Provedor (Jireh) como fonte de amor e aceitação inacabáveis...






Nele, que nos ensina o significado das coisas do coração, na maioria das vezes por caminhos misteriosos, como o Moriá...




Theo Fagundes

sexta-feira, 27 de março de 2009

Noção de “justiça” em Platão



Um texto simples _ não tão original_ e que é uma mistura de fontes de estudo, e de "conclusões minhas" (fui eu, na verdade, quem o escreveu.).
Não era mesmo a intenção ser um texto acadêmico, mas somente uma pesquisa, o que me deixa livre pra "juntar/misturar" as informações.










      Noção de “justiça” em Platão

     Resumo: A intenção do presente texto é abordar o conceito de “justiça” em Platão à partir dos diálogos que marcam o Livro I e parte do Livro II d’A República’ e demonstrar como,neste fragmento do texto escolhido, a apreensão da noção de “justiça” deve passar por uma necessária relação com a vida na pólis grega, tendo esta uma ligação estritamente inseparável com a constituição da alma humana. Trata-se de entender a justaposição das coisas na polis a partir da elucidação do modo constitutivo da psiké.



      È sinal de extrema sensibilidade e respeito à tradição, abordar a noção de “justiça” no âmbito da Filosofia,prestando à um de seus maiores teóricos ,lugar na compreensão de um dos conceitos de maior relevância na antiguidade clássica. Após o momento histórico em que a Filosofia debruçou-se sobre questões referentes ao cosmo e à origem das coisas, dos deuses e de todo ser criado, há _ sem dúvida pela influência do momento crítico que o Estado Grego atravessa_ uma reviravolta no modo como o homem grego percebe e concebe o mundo, e isto desemboca numa nova empresa filosófica: a de questionar a relação do homem consigo,com as coisas, com outros homens, e especialmente, com a polis (cidade) grega.
       À partir deste “apocalipse” grego, nasce uma preocupação (antes rejeitada) de questionar o papel da família,da educação, da constituição do indivíduo,e por fim de um ideal de coletividade ;conforme aponta Jean-Pierre Vernant em seu “As origens do Pensamento Grego”. É um momento histórico-filosófico que poderia ser denominado, guardadas as suas devidas proporções de, período antropofilosófico.
      Torna-se imprescindível entender o momento histórico em que o pensamento foi gestado ,à fim de se apreender com maior propriedade a abrangência que alguns de seus principais questionamentos alcançam.
    E é,portanto, nesse contexto que destacamos,dentre alguns outros que poderiam ser citados, a figura de Platão e sua obra clássica, “ A República” . Sendo assim, apontaremos ,em “linhas gerais” alguns pontos importantes do diálogo presente no Livro I a fim de podermos concluir o propósito deste empreendimento : compreender a noção de “justiça” em Platão, e por quais caminhos se faz necessário passar até chegarmos à um entendimento aproximado do mesmo.
     No livro I d ‘A República”,especialmente na figura de seus “personagens” aparecem claramente 3 (três) conceitos básicos de “justiça”. Numa discussão _tradicional “hobbie’ dos gregos_ com Sócrates, o velho Céfalo,seu filho Polemarco e ,o polêmico Trasímaco, reviram-se ante a refutação socrática na tentativa de estabelecer o conceito apropriado de justiça.
       A primeira, apresentada pelo idoso e sábio Céfalo, consiste numa noção concreta de justiça: a justiça consistiria em "dizer a verdade e em restituir aquilo que se tomou de alguém” (331d). Trata-se então de um conceito que espelha não propriamente uma aproximação crítica ao conceito de justiça, não uma sua circunscrição a partir da meditação filosófica em torno daquilo que é justo por natureza, mas a noção de justiça que era própria dos antepassados e da sociedade grega primordial e arquetípica, cuja corrupção não pode deixar de conduzir justamente à meditação filosófica sobre a justiça. Sua noção aquedou-se facilmente diante de uma simples refutação socrática: “seria justo retribuir ao amigo em estado de insanidade, armas que o mesmo dera para que guardasse enquanto ainda estava são do juízo?”. Cumprir a justiça segundo a assertiva de Céfalo , poderia ser danoso à outras pessoas. Nesse primeiro instante da discussão, em que os ânimos ainda não se conflitam, já se percebe o direcionamento que Platão (no uso de seu “personagem” habitual, Sócrates) dará à melhor compreensão do conceito de “justiça” : a que têm o fator externo ao indivíduo,o “outro”.
        A segunda é apresentada por Polemarco, filho de Céfalo, e consiste em defender que a justiça trata de fazer bem aos amigos e mal aos inimigos ­(332d). A aproximação ao conceito de justiça é aqui mais abstrata, abordando-a como uma proporção em que se dá a cada um aquilo que é devido. É o conceito sendo entendido com a “justa retribuição ao que se recebe”: justiça retributiva. Na proposição socrática, Polemarco também é desarmado, pois “homem justo não degrada o homem porque, precisamente, a justiça é uma virtude e o homem justo é um homem virtuoso”. Segundo Sócrates, quem faz o mal ao inimigo acreditando estar aplicando a justiça, está em verdade, tornando-se pior, pois; ser justo, implica em agir com justiça,o quem nem sempre é aplicável ao inimigo como justa retribuição;
         Finalmente, a terceira é apresentada pelo sofista Trasímaco, para quem a justiça não é outra coisa senão a “conveniência do mais forte”. Nesta, a virtude ou excelência (aretê) era adquirida essencialmente através da superação dos limites próprios - neste sentido: através do tornar-se mais forte - em confronto com o outro. Para Trasímaco, o ser "mais forte", ou seja, a marca da excelência ou da virtude heróica, consiste na capacidade para manipular os outros através das palavras e, neste sentido, para fazer passar o seu interesse próprio como o interesse da pólis no seu todo.
        À partir da entrada de Trasímaco na querela, as questões ganham novo contorno. “Os fortes governam os fracos” “(…) …existe uma desigualdade natural : alguns nascem mais fortes (o que implica em governar,que é o mesmo que decidir o que é justo) ,outros nascem para serem governados (cumpridores da justiça : dar ao governador as condições de ter em si mesmo a convergência dos interesses da pólis). Essa é a noção de justiça que ,talvez, tivesse maior aplicabilidade em dias como os nossos,pois o argumento posto não é que tal “delegação” para aplicar a justiça seja algo usurpado,mas antes, direito natural, herança da natureza. Logo, justiça é o que o mais forte (que em Trasímaco também é ,o mais esclarecido, sábio, inteligente…) decide por justo.
         É óbvio que tal compreensão não é justificável,e nem ao menos veraz, pois é notório que ,o modelo de “justiça” entendido em Trasímaco revela fragilidade no que concerne à finalidade de seu “ideal”: quase sempre, na tentativa de aplicar sua noção de “justiça” ,e isso dando ordens aos governados para que tudo convergisse à sua própria intencionalidade ,era possível que à partir de um comando enganoso de sua parte,seus súditos fariam voltar contra ele ,em obediência, seu próprio mal.
        Todo o caminho percorrido por Sócrates no diálogo presente no Livro I d ‘ A República’ ,refutando cada conceito,desde a “justiça” de herança arquetípica de Céfalo; à noção de “justiça retributiva”,de Polemarco; ao entendimento de que a “justiça” seja a “conveniência do mais forte,por natureza,de Trasímaco; desemboca no ideal platônico de _ e esse é o ponto culminante do texto_ justiça como arte política.
       Para tal, ele distingue a política como uma technê, estabelecendo uma analogia entre a política e a medicina. Se a medicina é uma technê, ela o é em função do objeto sobre o qual ela se exerce: a medicina só o é se provocar a saúde, sendo o interesse e a recompensa que o médico retirará do exercício da sua tecnhê algo apenas adjacente a esse mesmo exercício. Assim, tal como o médico é médico em função da saúde que provocou no doente, assim também o chefe político só o é através do efeito que na pólis tem a sua ação, e não através do seu interesse e das compensações que ele retira dessa mesma ação. Neste sentido, segundo Sócrates, a justiça implicaria em uma arte política que consistiria na melhoria do bem de todos e não de alguns.
         Temos então o conceito de justiça apreendido por meio de duas noções : a justiça é uma aretê (virtude), provocando o melhoramento dos homens; e esta virtude está ligada à arte ( tecnhê) política (tecnhê politikê).
         Se a justiça é uma aretê (virtude) ,e com isso inerente ao indivíduo, tem-se então o último momento do diálogo: a justiça pode ser uma ampliação do que já é no indivíduo;ou seja, o que é no indivíduo ,o pode ser na coletividade, na pólis.
       Tendo chegado a conclusão de que a justiça é inerente ao indivíduo, que pode ser desenvolvida como técnica ,visando seu fim na pólis (técnica política), o que se tem agora é a apropriação do entendimento que se possui acerca da constituição da alma humana, a fim de se entender a aplicabilidade que a justiça teria na pólis, assim como o é no indivíduo.
Para isso, propõe-se construir uma pólis de forma a depois compará-la com a estrutura da alma humana, partindo da analogia segundo a qual a alma humana é uma micropolis (pequena cidade) e a pólis um macroanthropos (homem ampliado).
           Platão distingue então três estratos humanos que constituem uma polis .Cada um destes elementos deve ter uma educação própria, de modo a desenvolver uma aretê (virtude) específica, educação essa que se articula com o papel distinto que cada um tem na organização da pólis:
* em primeiro lugar temos os produtores, que providenciam a subsistência da pólis. São eles os agricultores, artesãos, etc. Os produtores têm como virtude própria a temperança (sophrosynê);* sendo que a pólis é uma ordem que ultrapassa pequenas ordens que a incluem, elas precisam, antes de mais, de se defender. Neste sentido, temos os guardiões. E a virtude a ser desenvolvida pelos guardiões é um meio-termo entre a agressividade excessiva e uma excessiva brandura; comparados a um cão, estes desenvolvem a coragem (andreia), através de duas atividades essenciais à sua formação: a agilidade física na ginástica, para evitar demasiada brandura; e a música, de modo a temperar a agressividade.* o último elemento ,os chefes, têm de discernir o que é que cabe a cada um e qual a sua natureza. Um tal elemento deve cultivar uma virtude de natureza sapiencial, uma virtude intelectual ligada à sabedoria ( sophia ) mas de caráter prático, que se exprime na prudência (phronesis). Em que é que estas distinções se relevam no homem? Vejamos então os equivalentes na alma humana:
*correspondendo aos produtores, existe na alma humana um elemento vegetativo e apetitivo.*aos guardiões, corresponde uma alma irascível, um ímpeto anímico, a que os gregos chamaram thýmos.*aos chefes, corresponde a parte intelectiva da alma.

       Em conclusão, temos a identificação tripartida que Platão estabelece através da polis e da alma culminando nas virtudes de cada um:
Produtores _ Alma vegetativa – Temperança (sophrosynê);
Guardiões – Alma irascível – Coragem (andreia);
Chefes – Alma intelectiva – Prudência (phronesis).


       Desse modo, percebemos que, por trás de um “despretensioso” diálogo estava presente umas das maiores contribuições que a Antigüidade Clássica nos legaria : um sistema filosófico em que a noção de “justiça” se afirma em uma estrita ligação com o estabelecimento da cidade (pólis) : pois justiça só pode ser entendida à partir do exercício da virtude (areté,esta inerente a cada indivíduo) ,evocando a idéia de justaposição dos indivíduos que, na utilização de sua técnica (tecnhé) específica ,contribuem para o grande ideal: justiça (dikaiosyne) como composição devidamente estruturada das partes, visando o estabelecimento do bem comum, da pólis. Como o é no indivíduo, que seja na pólis.

Canção d'amores











      A "canção" abaixo é especial pra mim ! Comecei-a em 2005 e terminei ontem à noite, 26/03/2009.
       Há quem pergunte: mas ,pra uma coisa tão simplória como essa , deveria ter demorado tanto tempo? Ao que minha resposta será: sim, e talvez.
      Das diversas que "compus" (geralmente relacionada à estágios de minha vida afetiva), essa é o meu "filho predileto". Ora, mas por que? Por que fala daquilo que foi muito mais que um estágio, antes, uma constante na construção de minha afetividade: se é que a tenho...rsrsrs.
       Vale ressaltar que, quando me refiro à "amor" de forma aparentemente cruel não estou me referindo ao "Amor" que é referência de vida "aqui" e "para além daqui". Não falo do Amor "aghapos". Refiro-me àquilo que se costumou chamar de "amor romântico"...esse mesmo de nossas experiências corriqueiras e cotidianas.
       O período de 2005 e,este de 2009, foram os únicos em que eu poderia me expressar dessa maneira. Bendito seja Deus, que posso me expressar com dor amorosa, e não com dor magoada.
         A referência à "amada" no último verso não está relacionada à ninguém especificamente: até mesmo por que a distãncia entre os dois períodos _o de início e de conclusão da canção_ deram-me a chance de muito sofrer, mas tudo isso por que também deram-me a chance de muito amar. E por isso viver vale a pena... rsrs.
        Simplesmente, é o desejo de todo o que está vivo ,amar, e todo o que ama querer ofertá-lo e ofertar-se como libação derramada aos pés de "uma amada". Bendito seja Deus pelos que a encontram...rsrsrs.

       Nele, que no chão da vida faz brotar amor do caos, e regar sementes de vida e aceitação com lágrimas de aparente rejeição e abandono;

       Theo Fagundes



Canção d'amores

O amor é ferida aberta,
no peito de quem sofre desse mal tão bom;
O amor...

Enfermidade que traz vida
que liberta, mas faz servos
Em seu reino de escravos voluntários;
O amor...

Dor que prosta, que sujeita e acorrenta à seus pés;
Que derruba o mais valente, faz caí-lo descontente,
O amor...

Facho de luz em densas trevas, demônio do meio-dia
Assalto à meia-noite, cruel em seus açoites;
Algoz cruel do inocente, que de um único dano é reincidente: amar...

Mesmo cobrando tão alto preço
não há quem não lhe tenha apreço;
Pois na vida é dádiva e milagre,
que do fim faz recomeço.

E qual homem diante desta morte
não desejou ser esta sua sina e sorte?
Ver sua vida como libação derramada,
em devoção e entrega aos pés de sua amada...

Theo Fagundes