quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Homem Primitivo Redivivo: uma versão que consegue ser pior...!



   

















         Não há mais nada a perguntar; logo já não há mais porque viver ! Sim, pois que vida é possível sem perguntas, sem questões, sem “problemas” que necessitem de exame e resolução? Que atividade pode ser chamada de “humana” se não for constituída desse nosso “diferencial”: o de questionar a origem,sentido, e finalidade das coisas?
         Já sei tanto sobre tudo ao meu redor que viver tornou-se tarefa entediante demais...; e o que sei é extremamente desestimulador. Se o que julgava ser necessário à manutenção, preservação de uma vida que dignava-se humana já está “explicado”, para que ficar aqui e ver o fim previsto? Arrogância minha? Jamais ! Arrogância contemporânea. Vejamos.
          O mundo externo _pelo menos o mais próximo possível, o que corresponde à galáxia em que estou “passando uma chuva”_ segundo os postulados de grande parte da comunidade  “científica”, tornou-se previsível nos últimos 100 anos de modo altivamente assustador.  Sim, não se conhece todo o Universo, mas “eles” já sabem que tudo é regido por “leis” irrevogáveis, previsíveis. A vida na Terra está explicada, os eventos da natureza em cada período histórico  facilmente compreendidos, alterações no clima, vegetação, populações, e até o fim de nossa espécie mais ou menos previsto. A mais antiga fábula, a da causalidade, assume o governo pleno. Não existe mais nada “lá fora”, além do que percebam nossos telescópios; e se houver ,saberemos...dizem. É o mundo da descrença na crença, e da crença na arrogância.
        O mundo interior? Ah, esse já é mais fácil de sondar que um “jogo de lego”, e as previsões sobre a conduta (que absurdo !), escolhas e decisões, afinidades, tudo já está explicado em seu “código” genético, em sua constituição neuronal, nas ramificações de neurotransmissores em sua cabeça de bagre...enfim, tudo previsto. A melancolia e a ansiedade é resultado de disfunções no sistema límbico, _uma falha da porra dos neurotransmissores de meu “juízo”_ principalmente na “recaptação” de serotonina no cérebro: dá-lhe Prozac, Pondera, Assert, Fluoxetina..., pronto, e a vida torna-se “normal”; tudo muito previsível. Impulsos suicidas? Explicado. Personalidade Psicopática? Explicado. Transtornos psicóticos e esquizofrênicos? Explicado. E o pior de tudo: não somente explicados, mas, determinados. Isso mesmo: você é do jeito que deveria ser, e será do que jeito que deverá ser...e não como queira,almeje,planeje...! É a “Neuromancia”, “Cientomancia”, “Psicomancia”. Não precisa mais ver seu destino nas cartas: é só abrir a sua cabeça; tá escondido em algum lugar aí dentro.
                É a morte da vontade; o despojo de nosso “elemento produtor” de significado: a liberdade !
            O encanto da arte se foi, pois não há mais nada de mágico, surpreendente, encantador, divino, em sua criação artística. Não há mais espanto: para quê se não foi você quem criou a maravilha que pensou ter criado? Bem; foi você, mas um outro você...um você que você não sabia ser, pois o você que conhecias é mero espetáculo predeterminado. Confuso, não é?  Se a arte necessariamente deve passar pela expressão, não me interessa mais, pois estará expressando algo que nada terá de surpreendente...! É a morte da “magia”, do compartilhamento..., da revelação.
            Justiça, advogados, promotores, leis, normas? Para que? Ah, já sei: para garantir que o predestinado assassino psicopata seja punido por matar o predestinado  “politicamente correto”. Mas, como pode alguém ser punido e responsabilizado por algo que já está nele antes mesmo de saber-se? Pergunte à Sociedade Internacional de Psiquiatria, e ao seu “CID”...!
           Religião, comunidades de fé, deus, santos, mártires? Não necessitamos mais acreditar nisso; isso é o restante a ser eliminado de uma vez por todas de nosso código genético primitivo. A “Evolução” selecionou os melhores, e estes sabem que essas coisas são para fracos, amparo para a sobrevivência da classe “ressentida”, “parasita”. Matemos Deus... já não precisamos dessa idéia ultrapassada.
           O humor, a música, o teatro, a leitura...; para que? Vai lhe ajudar em que? A rir por que uma pessoa com predisposição humorada anima um receptor predisposto equivalentemente? A emocionar-se com canções que, ao contrário do que pensava, não foram compostas por gênios e nada tinham de excepcionais, e sim por pessoas que “deveriam” nascituramente serem assim?  Ler para que se não vai torná-lo nem um milésimo diferente do que serás?
            Não...já está tudo escrito: não, não é na Bíblia, nem no Corão, ou no Bhagavad Gita; mas no “novo cânon”.
            Agora entendo o que a maioria das pessoas de minha geração já perceberam (puxa, como sou burro e lento!): se já está tudo “posto”, para que querer ver sentido nas coisas? É isso mesmo ! Vamos estudar para ganhar mais dinheiro, e assim termos quantos automóveis for possível, e possuir todos os parceiros sexuais da galáxia. Acaba com esse negócio de “Ciências Humanas”! Vamos viver a vida; beber, fumar, usar anfetaminas, psicotrópicos, ouvir não música, mas aqueles mantras que tocamos em nossos carros de som, à fim de conclamar todos ao acasalamento. Esqueçamos a tradição, os grandes pintores, escritores, músicos...bando de abestalhados! O negócio é curtir, meu irmão: aqui e agora; pois o que tiver de ser ... já é.
                É a morte do homem “contemporâneo” ! Viva ao homem primitivo !
                Tenho que ir agora,  o dia já cai, a caverna ta ficando escura, e ainda tenho que tomar o meu tacape para caçar o bicho que comeremos na refeição da noite; e depois ainda tenho que puxar a mulher pelos cabelos e reproduzir a minha espécie gloriosa...! A selva me espera !!!!!


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Vide Cor Meum



Sempre falou de amor, mas nunca o conheceu
Apaixonou-se por uma mulher que jamais foi sua,
Viveu intensamente as mágoas e dores
Nem mesmo percebeu quando instalaram-se momentos alegres em sua vida:
Não acreditava na alegria, no amor, e menos ainda nas mulheres.
Era fiel à dor, súdito das paixões amputadoras.

Dedicava-se à música, respirava música; jamais tornou-se músico
Gastava-se com a família, diluía-se nela e por ela; mas nunca teve família.
Esmerou-se excruciante em ser modelo para os irmãos; porém, não ganhou irmãos
Foi cético,simpatizante,crente,crítico,descrente,cínico...agora não se importa com nada disso. Isso mesmo: importa-se com o nada, e nada mais.
Não acreditava na “fé”, nos “irmãos” , na família...e chorava seu nada com música.

Esteve de luto enquanto vivia, adoeceu quando apaixonado
Antecipou tragédias que jamais chegaram, agonizou mortes de gente que ainda ta viva
Seu coração era a agonia, a tragédia, a paixão, a morte...mas não se sabia vivo.

Amava o prazer, a bebida, o sexo, o calor de uma mulher
Mas mulheres o congelaram, sexo lhe entediou, a bebida entorpeceu-lhe
O prazer? Na verdade nunca esteve lá: eram suas projeções de carência.

Escolheu um pôr-do-sol , abraçou uma árvore,
Pôs sua canção predileta a tocar: “Veja meu coração”, dizia a canção.
Pobre homem, ousava chamar de coração o buraco aberto e exposto em seu peito !
O sol se pôs, a música tocou repetidas vezes,
A árvore abraçou-lhe com uma corda:
Enfim, pela primeira vez sentira a ânsia da vida que se preserva;
Mas isto lhe era suficiente:
- O sol se pôs nele, para ele; a arvore abraçou-lhe com a força de um nó,
A música tocava “veja meu coração”... e assim ele se pôs com o sol,
E sua vida se derramou na terra, e seu coração expôs-se aos corvos do céu
E a natureza lhe devorava o interior...e a vida deliciava-se ali... na morte,
No abraço da árvore, no cair da noite...na exposição do coração.

Morreu como desejou ter vivido !!!!





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