Brincadeira !!
Depois de tantas vezes feito,
Se tornaste em um especialista nisto:
- Partidas sem despedidas !!!
Porque tinha que ser assim?
Porque não se importa com minhas perguntas?
Essa indiferença em relação às minhas dores !
Essa rejeição ao quanto me representa, me define...
E agora, não saberei o que aconteceu,
As "sem-razões" da distância, das idas sem vindas.
Tanto sentir misturado em minha cabeça,
E a cruel certeza de construir meu futuro com sua ausência.
O choro entalado na garganta,
As ofensas que precisava dizer-lhe,
O amor que ainda sonhava em compartilhar;
O orgulho que intencionava lhe proporcionar,
E a sensação de que nada foi em vão !!
As carícias em minha cabeça enquanto repouso em seu colo,
O beijo na testa, e os ensinamentos que eram meus ,por direito.
Ausência é o que me sobra, é o que me torna:
- Mais uma vez...e para sempre.
E, meu desabafo, é meu modo de dizer-lhe o quanto gostaria que fosse diferente:
- Pois, depois de tudo, tantas despedidas nos roubam a habilidade de abrir o coração e falar francamente !!!
O que é a vida, senão a morte em contagem regressiva?
Viver é caminhar lentamente em direção ao destino fatal de todos...
O sorriso de uma criança um dia cerrará...
As lágrimas das dores de tantos, secarão...
A exuberância de um belo corpo, desvanecerá...
A pujança arrogante de um corpo jovem,tarde ou não, adoecerá...
Os olhos que se abriram, se fecharão para sempre...
As palavras abundantes, silenciarão...
Preocupações, queixas, dores, aspirações; já não serão...
Pois tudo a que chamamos de vida é a prorrogação do deixar de ser...
Morbidez? Perspectiva sombria? Melancolia ?
Pergunte a cada ruga de seu rosto, a cada esforço que se torna mais pesado,
Ouça as batidas de seu coração no silêncio de seu quarto,
E tudo o que ouvirá é um brado de adiamento, uma negativa ao instante final.
Não é a vida que permanece, é a morte que, misericordiosa para com muitos, prorroga sua estadia aqui.
Ainda assim, nos iludimos na ânsia do “pra sempre”,
E, de todos os modos, tentamos eternizar as frações disso a que chamamos de viver.
Fotografias, vídeos, textos, relacionamentos, “causas humanitárias”,
Nosso jeito deprimente de lamentar nosso ser peregrino, passageiro, com fim datado.
No fundo de nossa fantasia de permanência,sim, sabemos que os sinos dobrarão,
E que, um dia, já não seremos. Que golpe cruel, esse de nos fazer ansiar por algo que não temos:
- A eternidade !!!
Contudo, ainda criamos jeitos de continuarmos aqui quando já não formos !
Nossa ambição de perpetuidade permeia tudo o que realizamos, e encontramos na história a nossa única oportunidade de vivermos para sempre:
- Na chance de sermos lembrados !!!
Desaprendi a chorar, pelo menos com os olhos !
Perdi, e não encontrei mais, a nobre arte de encharcar um lenço.
Não que tenha me dessensibilizado, tornado-me indiferente ao que me cerca,
Ou que tenha empedernido-me, destituido-me da capacidade de afetar-me,
Talvez seja parte do processo de aprender a manifestar-me de outros modos,
Ou , talvez, desenvolvido um jeito de “chorar pra dentro”:
- Sim, talvez seja isso !!!
Então, na próxima vez que vir arpejando meu violão,
E com os olhos fechados parecer tocar outra dimensão,
Saiba, estou chorando !!
Ou quando ,ao lhe encontar, lhe abraçar bem apertado,
E beijar seu rosto como se não nos víssemos há décadas,
Saiba, estou chorando !!!
Quando, atendido por um pedinte, reparto do pouco que tenho,
E meu rosto expor a minha satisfação de ter a oportunidade de compartilhar,
Esteja certo, estou chorando !!
Se me vires gritando como um louco, em uma daquelas rodas de conversa com amigos,
Em que parecemos versados em todos os assuntos, e ingenuamente presunçosos sentenciamos sobre todas as grandes questões da humanidade:
- Ali, também choro !!!
Ah, e se visto meu manto rubro-negro, e separado pela gigante distância minimizada pela televisão, grito ensandecido o nome de estranhos que ,naquela hora, tornam-se meus amigos íntimos;
Esteja certo de que choro, choro muito, lágrimas de um campeão !!!
Talvez seja isso: aprendi a chorar de um outro jeito;o meu jeito !
Choro acordes, harmonias, dissonâncias,riffs, vocais rasgados...
Choro beijos, abraços, apertos de mão...
Muitas vezes minhas lágrimas são verbetes, crônicas, denúncias textuais...
Outras vezes, meu choro é “pão repartido”, auxílio a um desfavorecido como eu, é mão que se estende...
Talvez não seja um novo homem, mas sem dúvida, sou um outro homem;
Que não chora pelos olhos, mas sim, pela prática...meu choro transpira na pele:
- Choro pelos gestos !!!!