quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Viver da Arte em Itabuna - Entrevista


Matheus Patrick Santos Fagundes (Theo Fagundes); 30 anos, escolhido pela Música há 30 anos; vivo de/pela Música, existencialmente há 16 anos (momento em que percebi a urgência e necessidade dela, a Música, em tudo o que faço), e sou sustentado financeiramente pelo exercício da prática musical há exatos 2 anos.
É importante, antes de tudo, 

pontuar duas coisas importantes:
- As respostas abaixo representam a minha perspectiva (às vezes um tanto crítica e ácida), e não de uma classe inteira (“Classe” que, na verdade, só existe teoricamente);
- Sugiro a leitura da entrevista ao excelentíssimo Blog “Artistas de Itabuna”, por haver nela elementos pertinentes à suas perguntas em algumas de minhas respostas à mencionada entrevista. (http://artistasdeitabuna.blogspot.com.br/2011/02/entrevista-com-theo-fagundes.html)
1. Em sua experiência profissional, desde sempre, relate um parágrafo com base no tema:





1.A GRANDE ARTE DE SOBREVIVER DA MÚSICA EM ITABUNA

Tentarei ser sucinto, sem soar artificial !!
Se há uma tarefa em que o artista itabunense pode gloriar-se em ser exímio, é esta: a de viver da arte, nesse chão que já ficou famoso por brotar abundância de cacau, mas que para seus artistas oferece cardos e espinhos.
É claro que, há na tarefa do artista uma semelhança com qualquer outra profissão concernente à sua entrega, responsabilidade, empenho, estudo, investimento de tempo e dinheiro no aprimoramento de sua arte; pois como já bem disse o fabuloso Lenine em entrevista ao programa “Roda Viva”: “Perfeição na arte é resultado muito mais de transpiração, que de inspiração”. Ou seja: mesmo com talento, tem que ralar muito ,sempre, e sempre...! O artista, nesse caso o músico, é o seu próprio e primeiro espectador, fã e crítico...; e responsável primitivo por seu trabalho. Dito isto, o que extraí da experiência aqui me mostrou , pelo menos, três grande obstáculos que tornam a sobrevivência por meio da arte em Itabuna em uma grande “empreitada artística” (Risos). Pontuarei dois deles, pois o terceiro está inferido na resposta à sua próxima pergunta.
O primeiro obstáculo: o “contratante”.Geralmente representado pelos donos de estabelecimentos de entretenimento da cidade; tais como restaurantes, boates, bares, casas de eventos, etc. Mesmo que músicos também “lucrem” em eventos particulares, casamentos, aniversários, festas de empresas, festas públicas, ainda assim, a grande maioria de nós vivemos dos cachês da “noite itabunense”: aí temos o primeiro problema. Contratantes exploradores, ambiciosos de seu próprio lucro, donos de estabelecimentos que cobram o famoso “couvert artístico” e que depois não repassam nem mesmo ¼ do valor aos músicos. Ainda têm os maus tratos, a indelicadeza, atitudes que em sua maioria, derivam da compreensão de que o que fazemos é uma tarefa fácil, e que é uma espécie de opção pela vagabundagem, pela boemia. Não sabem eles que, uma boa parte dos músicos são pessoas como eu: possuidores de Formação Superior , e que optaram em abandonar um “futuro certo” pela satisfação de comer o pão de cada dia garantido pela sua arte.

O segundo obstáculo: o público ! Gente que não “sabe beber”, e que por isso muitas vezes são indelicados com os músicos. Não os respeitam como profissionais que são, autônomos por escolha. Não respeitam sua formação musical, suas preferências, sua individualidade como intérprete e tampouco a maestria de suas composições; e por fim, não respeitam seu repertório. Oh, gente intolerante !!! Me pergunto sempre: alguém chega em uma churrascaria e pede moqueca de peixe, ou vice-versa? E por que, se percebes que o músico segue uma “linha interpretativa” ofende-o? Sim, público intolerante; e ainda por cima, de péssimo gosto: haja visto a constante pressão para inserirmos em nossas pastas de músicas esses subprodutos, esse lixo cultural vestido de luxúria e permissividade que invadiu nosso cotidiano. Mas enfim, gosto é pessoal !!!! (risos). 



2.QUAL É O COMPROMISSO DA FICC COM OS PROFISSIONAIS DA MÚSICA EM ITABUNA? 

A FICC é mais uma ramificação da vida política _não artística_ da realidade grapiúna, com liderança escolhida conforme filiação partidária e decisão ideológica, e quem assim não proceder não permanecerá encabeçando a instituição e seus projetos cujo interesses são , em sua maioria, pessoais e em benefício de uma pequena fatia da “classe artística.
A prova mais simples de que a FICC “dança conforme a dança política”: converse com qualquer artista que participou de algum projeto nos últimos 4 anos, e não pasme se lhe responderem com a afirmação de que os últimos anos foram de um constante conflito com a Gestão do atual prefeito. Contradizendo sua própria natureza, em Itabuna, a Música, como qualquer outra manifestação artística não é livre: é “arte de cabresto”.

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